segunda-feira, 18 de março de 2013

Pobres moças

Agora é Simone de Beauvoir aqui, neste especial com Caio F. escrevendo sobre escritores que ele adorava. Já teve Gabriel, Gárcía Márquez, Patricia Highsmith, Virginia Woolf, e Julio Cortázar nos posts anteriores. Abaixo,uma resenha do Caio sobre Quando o Espiritual Domina, livro de Simone de Beauvoir. Boa leitura!

  
Escritas quando Simone de Beauvoir se aproximava dos 30 anos, essas histórias foram recusadas por dois editores sob a alegação de que não formavam “um conjunto coerente que se pudesse chamar de romance”, além de faltar relevo às heroínas e aos protagonistas masculinos”. Desde então, por autocrítica da autora, dormiram no fundo da gaveta. Até o final do ano passado, quando foram publicadas na França com rápido e estridente sucesso.

De fato, Quando o Espiritual Domina (título ironicamente inspirado num ensaio do pensador católico Jacques Maritain, Primazia do Espiritual) viola a divisão acadêmica entre novela e romance, interligando sutilmente cinco histórias. Antecipando-se sem nenhum ranço aos movimentos feministas, já na década de 30 Beauvoir fazia uma literatura genuinamente do ponto de vista feminino, sem poupar a seus personagens os mesmos preconceitos e distorções que denunciaria mais tarde em O Segundo Sexo. No centro do romance está o amor, o que Marcelle sente por Dennis ou o que Chantal vê Monique sentir por Serge, ou ainda o que Anne e Lisa sentem por Pascal. Em todos os casos, ele é falso – porque baseado na humilhação, na inferioridade frente ao sexo masculino. Aos poucos, o título vai crescendo de sentido, o “espiritual” domina quando o corpo e seus desejos reais são negados ou iludidos. Ou quando as informações livrescas superam as vitais.

Quando o Espiritual Domina, de Simone Beauvoir, Nova Fronteira, 241 páginas

                                                Veja, 10 de setembro 1980 

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